terça-feira, 26 de outubro de 2010

Traição

Por séculos acreditei que a  traição e a infidelidade foram a válvula de escape para casamentos de aparências, cheios de privilégios e privações, frutos dos interesses de uma sociedade enérgica, hipócrita e autoritária.
Mas hoje, que desculpa jogamos nos braços desta pobre coitada?
Traímos pela sensação prazerosa do pecado ou pela covardia de não autografar o livro de nossa infelicidade se auto titulando fracassado pela escolhas que fizemos?
Mas afinal o que é trair?
Trair não tem nada a ver com caráter, honestidade e todas essas baboseiras que dizem por ai.
Traição é o fruto da arvore vaidade que cresce sob o solo da auto-estima.Trair é simples.É fácil.É humano.
É o canal que a gente enjoa.É o livro que a gente não termina.É o simples não querer mais.
Faz parte de cada célula do nosso corpo essa necessidade de se sentir desejada, cobiçada, mais do que isso, culpada.
O engraçado é ver as tantas opções se escancarando todos os dias, celulares XZW5, teatro, cinema,
parques de diversões, modelos de bolsas, tecidos para toalhas de mesa. Afinal de que adianta a vida nos rodear de alternativas, se a que mais importa e nos da prazer é justo aquela que não termos o direito alterar sem trágicas conseqüências?
Traição sempre foi permitir-se uma segunda escolha sem ter que admitir que erramos na primeira.
É como se de tempos em tempos a gente precisasse se apresentar a nos mesmos.Mais jovens.Com um novo papo.Uma nova giria.Um novo vestido.Com uma nova esperança.Um novo sorriso no canto da boca.
E então o velho conselho de boteco se faz presente:Viva o hoje.Ame o agora.Não planeje o amanhã.
Ontem vocês dividiam os lençóis e segredos.Hoje dívidas e xingamentos.Amanhã mágoas e ressentimentos.
Não esconda a chave do seu pote de ouro no bolso de outra pessoa.
Não culpe o passado pelas suas derrotas. Culpe o futuro pela sua incompetência de não viver o seu presente.
Não, não fui traída, nem traí ninguém para justificar as razões este texto.
Apenas vejo mais que um rosto cansado nas pessoas que esbarro pela rua.

Anie Correa

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