quarta-feira, 31 de março de 2010

O desconhecido




Depois dos gritos de pavor tive consciência do que tinha acabado de acontecer, tive ideia do tamanho da queda que sofri.Por alguns segundos fiquei ali, unida ao chão podre da realidade, gélido,úmido e sem vida.

Ela chegou antes que dois minutos se passassem, era horrível, me faltava o ar e aos pulos eu lutava para preencher meus pulmões mas uma forte pressão me impedia, era desumana a dor que agora me servia de única companhia,mas um barulho desviou minha atenção.

Foi quando percebi que não estava sozinha.

Ele me analisara desde a queda até ali.Seus olhos era marejados, vermelhos e olheiras profundas faziam a moldura daquele olhar, que era ao mesmo tempo assustado e cheio de dor.Era como se através dele eu visse toda a tristeza que eu estava sentindo, e aquele olhar assustado era também de alguém que havia passado por tal agressão, cheio de atenção e preocupação.

Nem por isso me senti aliviada.

Estava totalmente imóvel, vulnerável, entregue.

Não conseguia respirar, não tinha força para lutar contra aquela dor.Ouvir os estalos que meu corpo emitia a cada tentativa frustrada de me mover era mais do que eu poderia suportar.

Com passos lentos e cansados ele veio em minha direção.Nem o medo teve coragem de invadir meus pensamentos (que naquela hora estavam destinados a agonia de uma dor lacerante que queimava cada centímetro do meu corpo).
Em meu ultimo e cansado fôlego lembro-me de -lo de perto, ele me tomou em seus braços e neste momento a mim ja não cabia fazer nada, algo estava preste a se concretizar, sendo assim me deixei levar.

A medida que ele me carregava, para o lugar desconhecido e fruto de uma nova realidade, aquela dor que explodia cada órgão que eu ainda julgava ter parou.

Meu alivio foi tão intenso que só tinha um desejo: Não me livrar das mãos que me absolveram das lacerações previamente adquiridas. Numa pressão subta e uma dor aguda e breve meu coração parou de bater, passei a respirar por reflexo que isso não mais era necessário.

Continuamos pelo desconhecido (ou o que para mim parecia) e estava nos braços de alguém cujo nome não sabia, indo para onde não sabia.

Não sei de minutos, segundos ou horas se passaram até que eu criasse forças e num murmuro perguntei quem era.

Ele não me olhou,parecia que esperava pela pergunta que fizera.

-Sou a DESILUSÃO.Eu estou ao seu lado desde a DECEPÇÃO te jogou de cima de um penhasco.Agora durma,estarei aqui quando acordar.Alias, estarei aqui para sempre.Será eu quem guiará seus passos daqui por diante.




Antes que ele terminasse a ultima palavra eu estava entregue novamente ao cansaço.